O desassossego em Irene Lisboa

Wednesday, March 28, 2007

BIOGRAFIA


Irene do Céu Vieira Lisboa, nasceu no Concelho de Arruda, concretamente no Casal da Murzinheira na Freguesia de Arranhó, no dia de Natal de 1892. Não conheceu a mãe, uma jovem do campo que se deixou levar de amores por um advogado, camponês abastado, numa quente Primavera, Um dia partiu sem se despedir da filha, ainda criança que dela só guardou uma ténue recordação.
Viveu com o pai e foi educada por uma madrinha já idosa, por ter sido afastada da casa paterna bastante cedo.
Embora marcada pela ausência do afecto materno, teve uma infância pacífica e tranquila. Frequentou bons colégios e o liceu Maria Pia em Lisboa, onde conheceu Ilda Moreira, a amiga da sua vida. Mais tarde veio a completar o curso de professora primária, com distinção, facto que lhe permitiu receber uma bolsa de estudo para se especializar em pedagogia, no estrangeiro, nomeadamente em França, Suíça e Bélgica.
Para uma rapariga daquele tempo, recebeu uma educação esmerada e pouca vulgar.
De regresso a Portugal dedica-se ao ensino e também à escrita de uma forma regular e abundante, colaborando nas mais importantes revistas e jornais da época, como, A Presença, Seara Nova; Escola Portuguesa, Diário de Notícias, Comércio do Porto entre outros, também de renome. Compõe textos baseados na observação perspicaz dos acontecimentos do dia-a-dia de quem a rodeia.
Também escreveu sobre si própria, baseada na vivência de rapariga da cidade, mas com uma experiência e conhecimento do campo, característico de quem nele viveu.
Irene Lisboa assinou obras com o seu próprio nome e utilizou pseudónimos masculinos, como João Falco e Manuel Soares, estes os mais conhecidos. Os contos infantis que escreveu, assinou com nomes como Airina, Maria Moira ou Nicolino Talentau.
No seu estilo peculiar de se expressar, não inventa, fala do que vê, da gente simples com quem convive, dos factos verídicos do dia-a-dia. Narra directamente, duramente por vezes. Cada história sua, cada crónica ou narração é um retrato vivo e real. Na sua obra é visível a grande atenção que presta ao quotidiano.
Como professora criticou o modelo de escola que proibia as crianças de perguntar e só as obrigava a obedecer. Censurou a escola que não oferecia condições para que os jovens aprendessem alegremente, com afectuosidade, reprovou a escola herméticas que não aceita críticas.
Uma das causas que defendeu, foi a divulgação do moderno pensamento pedagógico do ensino em que as crianças deviam aprender livremente, tendo permissão para pôr em prática a sua criatividade.
Como mulher esclarecida, empenhou-se no progresso social do seu país. Num período de ditadura, lutou pelo direito à liberdade de expressão, o direito de um povo se manifestar livremente.
As memórias que desta escritora é possível reunir, revelam uma mulher afectuosa, intensa e apaixonada, embora a fotografia mais conhecida patenteie um rosto sereno, atento e nostálgico. No entanto os que a conheceram, e para além da sua afilhada, Inês Gouveia, filha da sua melhor amiga, já são raras as pessoas vivas que com ela conviveram, falam de uma mulher fascinante, frontal e irónica que foi incompreendida por uns, mas bastante amada por outros.
Foi marginalizada como professora e escritora. Viveu a amargura que a marcou de tenra infância e os últimos anos da sua vida foram passados com desespero, por nunca ter encontrado no seu país o interesse do público pela sua obra nem a merecida aceitação editorial.
Sentiu-se lesada por nunca lhe terem concedido a projecção a que se sabia com direito.
Irene do Céu Vieira Lisboa, veio a falecer em Lisboa a 25 de Novembro de 1958. Consciente de que tinha construído uma obra, sempre viu o sucesso afastado, partiu e deixou aos outros o que a ela sempre foi negado.

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